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BIOem modo história

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Não passava de uma brincadeira de amigos, uma banda de garagem.

Em 1987, em Cascais, surge uma banda de rapazes com mais sonhos do que atributos técnicos. Baptizaram-se Santos & Pecadores.
A primeira formação da banda era constituída por Olavo Bilac, que ocupou o microfone à falta
de outro vocalista, Pascoal Simões, nas teclas, João Gomes, também nas teclas (passaria pelos
LX90, hoje está nos Ar de Rock, Turista (projeto a solo) entre outros), Paulo Rato e Paulo Rol, nas guitarras, e o Eduardo, na bateria.
“A banda nasce num bairro de Cascais, onde miúdos que brincavam no bairro e jogavam à
bola, por carolice e brincadeira, sonharam ser músicos”, conta Bilac, nascido em Moçambique,
em 1969 (chegou a Portugal aos oito anos), que começara a estudar música aos 19 anos, nos
Bombeiros Voluntários de Cascais.
“Tocar e fazer festas” era o objetivo dos Santos nos primeiros tempos de banda. No final de
1987, fazem dos Columbófilos de Cascais a sua sala de ensaios. O baterista de então conhecia
um professor de uma escola de música que era sócio da coletividade. Ensaiavam uma vez por
semana.
Em 1988 dão o primeiro concerto, precisamente nos Columbófilos. Outro cascalense Artur
Santos, que mais tarde juntar-se-ia de pleno direito ao grupo, toca baixo como convidado.
Artur era de uma banda “da concorrência”: “era giro porque quando eles precisavam de um
baixista chamavam-me, mas depois não me diziam as notas”, recorda, a rir-se.
Paulo Rol falece num acidente de mota, em Maio de 1988 e deixa a banda bastante consternada. Apesar da tragédia, a banda continua a dar concertos em locais como a Escola Secundária de S. João do Estoril e a Quinta da Alagoa, na Parede. É lá que conhecem os Sitiados, Exigents (futuros Ritual Tejo), e os Rocknocker, onde tocavam Pedro Cunha ( futuro baterista dos Santos), Artur Santos (futuro baixista), António Costa (futuro guitarrista) e ainda Tiago Gardner (mais tarde vocalista dos Joker). 

Paulo Rato (Guitarrista) entretanto saiu  da banda e Rui Freire entra para o seu posto.
Ainda nesse ano, Eduardo sai da bateria para fundar uma outra banda. Artur sugere que os
Santos convidem Pedro Cunha, que entra para a banda. Entretanto, João Gomes deixa o grupo ficando o Pascoal Simões com a totalidade das teclas a seu cargo.
Em 1989, a formação dos Santos aproximava-se da clássica. Olavo e Pascoal eram os únicos
membros do agrupamento original. A somar às entradas e saídas de membros, os Santos
tiveram que ultrapassar um contratempo: o material do grupo foi todo roubado. Depois de um
período de inatividade, a banda regressa aos concertos. Tocavam em associações ou em
festas. Numa festa de finalistas da turma do 12.o ano de Artur improvisaram um palco com
material “emprestado”, tirado da garagem do pai de Rui Freire.
Em Maio de 1989, dão a primeira entrevista a um jornal local. Revelam já uma vontade de
fazer pop que chegasse às pessoas. “Em todos os temas, fazemos primeiro a música e só
depois tentamos pôr uma [letra] que fique bem; a nossa preocupação é mais que a música
fique no ouvido”, dizia Olavo. E reconhecia: “Também os temas das letras não focam nada de
especial”. Artur acrescentava que falavam “da juventude”. Rui Freire, o guitarrista da altura, tinha
uma teoria para o som do grupo: “(...) por vivermos ao pé do sol e da praia, a nossa música é
influenciada por isso, é um som alegre”. ( Entrevista ao jornal “Costa do Sol”, 11 de
Maio de 1989)
Em Outubro desse ano, com algum dinheiro amealhado, fecham-se nos estúdios Tcha Tcha Tcha, em Algés, e gravam uma maquete com o tema “Fado”. Nesta primeira experiência em estúdio,
tinham já outro guitarrista, António Costa. É com esta maquete que conquistam os responsáveis do bar Yellow Submarine, em Cascais, propriedade de Vicky, vocalista da banda de versões Blue Jeans. A banda torna-se residente do bar Yellow Submarine.
O bar passa a ser também o local de ensaios da banda, que deixou para trás dois anos entre
pombos-correios ( Columbófilos).

Alguns temas começavam a ser conhecidos entre os primeiros fãs da banda, nomeadamente “Pirata”, “Camões”, “Reencontro” e “Fado”.
O ano de 1990 começa mal, com os Santos & Pecadores num hiato. Os músicos começam a
tocar com outras pessoas. A banda caminhava para a desintegração até que Olavo e Pascoal
decidem enviar a maquete gravada no Tcha Tcha Tcha, com “Fado”, para o concurso Rock
Pepsi. A canção é escolhida entre 126 candidatos e os Santos reúnem-se para participar no
concurso.
A eliminatória, em Cascais, correu-lhes bem. Muito bem até: conseguiram 21 pontos em 25
possíveis. Foram à final, que aconteceu na Fonte Luminosa, em Lisboa, em Setembro. Ficam em quarto lugar (os primeiros foram os Ik Mux).
Fernando Cunha, então guitarrista dos Delfins, estava na audiência e mostrou interesse no grupo. Já os tinha visto em 1988, “numa festa de escuteiros”, lembra Fernando Cunha. “Ainda eram
muito verdes”.
O concurso deu alento ao grupo, que decide voltar à existência normal (Rui Freire abandona o
projeto). Os ensaios regressam aos Columbófilos.
Em Maio de 1991, Ruy Martins, de Lisboa, entra para a banda, para o saxofone, por intermédio
de Pedro Cunha, com quem tinha tocado nos Dor d’Alma. Curiosamente, Ruy fazia parte da
“concorrência” na final do concurso da Pepsi (tocava nos Ar d’Rock, que ficaram em segundo
lugar).
A relação com os Delfins entra em cena. A sala dos Delfins – futuro estúdio 1 Só Céu – passa a

acolher também os Santos, que começam a ensaiar religiosamente às quintas à noite e ao fim-
de-semana.

António Costa deixa a banda. Depois de alguns meses sem guitarrista, no final de 1992, findo um
longo processo de audições, com muitos candidatos rejeitados, Pedro Almeida, entra para o grupo. É o início “oficial” dos Santos & Pecadores como hoje os conhecemos.
“Na banda havia as cores todas”, diz Olavo Bilac. “Fomos procurar um chinês, mas
encontramos um índio”, brinca. “Eu vinha de uma área um bocadinho diferente”, nota Pedro
Almeida. “Tinha ido estudar jazz porque gostava muito de jazz, não só pela boa formação que
essa escola dá. Estava um bocado distante do universo pop da altura e, pronto, tentei dar a
minha contribuição”. Aos 20 anos, Pedro entrava nos Santos, a primeira banda a sério depois
de algumas “brincadeiras” em grupos de blues e standards.
Apesar de os Santos & Pecadores ainda estarem “verdes”, Fernando Cunha ficou
impressionado com Olavo Bilac. “O que vi no Olavo era um autêntico sex symbol. E tinha uma
voz entre o Bryan Adams e o Rod Stewart, que era muito invulgar”, conta.
A Resistência surgiu em 1989 como um autêntico supergrupo da música nacional, dedicado a
dar roupagens acústicas a clássicos de gente como os Xutos & Pontapés, Trovante e José
Afonso. Na Resistência havia a necessidade de mais um frontman. “O Tim tocava, o Fernando
Cunha tocava, eu era o único que estava em pé, faltava alguém para estar ali comigo.
Pensámos numa rapariga, mas no início a Resistência era uma coisa de rapazes”, conta Miguel
Ângelo, dos Delfins.
Olavo recorda-se das audições perante colossos da música portuguesa como Pedro Ayres
Magalhães e Tim: “Cantei o ‘[Aquele] Inverno’ [dos Delfins]. (...) Tremia que nem varas verdes”.
Olavo foi “atirado às feras”, brinca Fernando Cunha. A Resistência foi “uma alavanca para a
música portuguesa”, diz Olavo, mas também para os Santos & Pecadores: “Foi um estalo de

aprendizagem, uma injeção rápida de como se processavam as coisas, do que era a estrada,
do que era um palco. Foi uma experiência muito enriquecedora para mim, deu-me alguma
visibilidade e ajudou a que os Santos tivessem essa visibilidade. Ao começarem a gravar o
primeiro disco, os Santos já tinham algum peso de responsabilidade”.
“A Resistência vende mais de 100 mil exemplares, quase parecia os Beatles”, brinca Miguel
Ângelo. “Foi uma plataforma para o lançamento dos Santos & Pecadores. Muitas vezes
aparece-se, mas se não se tem consistência para continuar a carreira – que é o que acontece
em muitos programas televisivos – desaparece-se. [Os Santos] Tinham consistência, eram uma
banda muito boa ao vivo”.
Mas antes de os Santos poderem voltar a mostrar as suas capacidades de entertainers havia
que trabalhar. Gravaram uma maqueta que apresentaram ao Tozé Brito, mas o responsável da
editora BMG, reprovou-a. “Achou que estava muito verde, que tínhamos capacidade de fazer
melhor. Disse para amadurecermos um bocadinho”, recorda Pedro Cunha.
O baterista faz a autocrítica: “as letras não eram grande coisa, as composições também não”.
Mesmo assim, “havia ali qualquer alguma coisa” que mostrava que havia caminho. Apesar da
compreensível reacção inicial (“ficamos chateados”), Cunha diz agora: “foi bom o Tozé não ter
apostado em nós logo, porque não teria resultado como resultou”.
Passaram dois anos fechados numa sala de ensaios, sem concertos. Construímos uma sala de ensaios praticamente de raiz numa casa antiga que alugámos e que acabou por durar até ao terceiro disco de Santos. Era uma sala básica, mas era a nossa sala, foi construída por todos. Isso ajudou a criar um espírito de união desde o início. Esses dois anos fizeram-nos bem, foi quando compusemos o ‘Onde Estás?’”, recorda.
Artur Santos descreve: “Foram dois anos muito bem passados. Fazíamos montes de coisas
juntos, dormíamos na sala de ensaios, não tínhamos aquela ansiedade de gravar logo o disco”.
“Quando foi para compor a sério, achámos que precisávamos de outra atmosfera para
estarmos concentrados. Criámos aquela sala para ir lá às horas que quiséssemos, de manhã à
noite. Tornou-se importante haver aquele espaço, o espaço de criação: podíamos viajar ali
todos”, acrescenta Pedro Cunha.
Quase todas as canções dos primeiros tempos ficaram pelo caminho. Duas sobreviveram: “Não
Voltarei a Ser Fiel” e “Momento Final”, curiosamente dois dos maiores sucessos do grupo.
“Não Voltarei a Ser Fiel” era um tema rock, mas perceberam que podia funcionar com outras
roupagens quando Olavo começou a cantá-lo sozinho com a acústica.
O processo durou até que Fernando Cunha achou que as canções estavam maduras. “Foi
nesses dois, três anos que aprenderam a tocar bem”, confirma o guitarrista dos Delfins.
“Gravámos uma maquete em quatro pistas, o Fernando Cunha achou que estávamos prontos.
O [Rui] Fadigas [baixista dos Delfins] também nos deu umas direções”, conta Artur.
Em 1993, aceitam um convite para participar no disco de homenagem a António Variações,
“Variações - As Canções de António” (editado em Janeiro de 1994), com uma versão de “Perdi
a Memória”. “Foi a nossa primeira experiência de estúdio a sério”, atira Pedro Cunha. “Sendo
uma banda nova, pegar num tema e fazer uma versão de um autor tão importante como o
Variações deixou-nos um pouco nervosos”. Nessa compilação, os Santos & Pecadores
surgiam ao lado de consagrados como Mão Morta, Delfins e Resistência.
Em 1994, durante o processo de preparação do primeiro álbum, começam a transpor as letras
para português. Delegaram em Fernando Cunha e Miguel Ângelo essa função. “Era uma banda
em que acreditávamos”, diz Miguel Ângelo. “Foi um desafio para nós. Só tínhamos composto
para os Delfins, desde 1983, 84. Foi um desafio poder escrever para o Olavo, que estava perto
de nós. Quase vestíamos a pele dele”. Escreviam a pensar em Olavo como “personagem”.
“Lembro-me de estar nas rochas da Boca do Inferno com o Olavo e um caderno, a fazermos as
letras”, declara.

Miguel Ângelo tinha interesse no potencial pop do grupo. “Eles tinham basicamente canções.
O que me fazia apaixonar pelos Santos e Pólo Norte era serem bandas com canções. Até então
havia rock, urbano depressivo... e começaram a haver bandas com abordagens mais pop”,
argumenta.
A 29 de Outubro desse ano, dão o primeiro grande concerto, no Pavilhão Carlos Lopes, na
primeira parte dos Despe e Siga. Este concerto ficou conhecido como o “concerto das
agendas”. “À entrada estavam a distribuir umas agendas. Os putos queriam ouvir Despe e Siga,
ninguém sabia quem éramos. As pessoas pegavam nas páginas das agendas [e atiravam-nas].
No palco, parecia que estava a chover. Ainda voaram duas ou três inteiras”, narra Artur Santos.
Também em Outubro de 1994, começaram a gravar nos estúdios 1 Só Céu (a antiga sala de
ensaios dos Delfins transformada), sob a direção de Fernando Cunha. A banda tem uma dívida
de gratidão ao membro dos Delfins, que gravou e produziu o álbum de estreia mesmo sem
garantias de que a banda conseguiria lançar o disco por uma editora.
Perante a evolução notória do grupo, Tozé Brito contratou-os para a sua BMG, que edita
“Onde Estás?”, em 1995. O sucesso não foi imediato. O primeiro single, “Onde estás?”, não
teve especial impacto. Mas tudo mudou quando libertaram “Não Voltarei a Ser Fiel”. Numa ida
à Antena 3, disseram-lhes: “Vocês têm a noção do sucesso que está a ter esta música? As
pessoas telefonam para aqui todos os dias a pedir a música”. “Não estávamos a perceber
muito bem o que nos estava acontecer”, contextualiza Artur.
O disco contou com a participação de Rui Fadigas, da apresentadora de televisão Catarina
Furtado e de Alexandre Frazão, que estava no mesmo estúdio a gravar com os Pólo Norte. Os
três entram no muito jazzy “Nada Mudou”. “Aquela música precisava de uma voz sensual.
Alguém se lembrou da Catarina, ela estava a aparecer [mediaticamente. O Olavo falou com ela
e ela disse: ‘Eu não canto, mas vou experimentar’. Aquilo resultou: deu um ambiente
excelente ao tema”, recorda Pedro Cunha.
“Onde Estás?” tem também um dueto entre Olavo Bilac filho e Olavo Bilac pai, “Fruto
Proibido”, uma morna cantada em crioulo. Numa entrevista, Olavo explicava: “Eu sofri muito a
influência da música africana. O meu pai - que é quem está a cantar - sempre me influenciou
desde criança. E achámos todos por bem pô-lo a cantar e tocar neste disco. Daí aparecer essa
morna, que eu não acho que esteja fora do contexto - se no álbum há jazz, soul, funky, rock,
por que não também um bocado de morna?”. [RODAPÉ: Entrevista ao “Público”, 21 de
Fevereiro de 1995]
Nesse artigo de jornal, Fernando Cunha confirmou que essa foi uma forma de vencer “uma
certa timidez” e de revelar ao público o sentimento que Olavo nutre pelo pai: “É como se fosse
uma prenda, um bónus. É uma coisa que ele tira de dentro dele e põe ali. A música pode não
parecer, mas a letra tem tudo a ver com o resto do conceito do álbum”.
De palco em palco
Apesar da experiência Resistência ter posto muitos olhos em cima deles, os Santos não
esperavam tanto sucesso logo ao primeiro “tiro”. “A expectativa é sempre que agrade às
pessoas. Sabíamos que podia ou não agradar. E para mais o primeiro single não teve grande
impacto, as pessoas não acharam um tema por aí além, o que nos deixou um bocadinho de pé
atrás”, conta Pedro Cunha. “Fiel” foi o “boom”: “apanhou-nos de surpresa. Aparece-nos uma
série de convites. Aquilo que tínhamos sonhado aconteceu, mas foi tudo muito rápido”.
A banda que se tinha fechado sem tocar ao vivo durante tanto tempo estava, de repente, a ser
solicitada para ir tocar a todo o lado. “Sempre que recebíamos uma proposta de concerto era
quase uma festa. Queríamos concertos em Bragança porque era o sítio mais longínquo”,

recorda o baterista. "Sempre imaginámos a história de viajarmos juntos para tocarmos".
Desse ano de 1995, ficaram gravados na memória da banda concertos como a primeira parte
de Pedro Abrunhosa na Queima das Fitas de Coimbra. Em 1996, começaram a segunda
digressão do álbum em Paris.
Pedro Almeida tirou logo uma lição desse disco: “A voz do Olavo soa muito bem em coisas
mais calmas”. E reconhece: “É uma característica que definiu a banda. Por outro lado,
condicionou. Há outras coisas de que gostamos que não conseguem ver a luz do dia porque as
rádios não pegam, as próprias editoras têm que rentabilizar as suas apostas e jogam mais pelo
seguro”.
O sucesso de “Onde Estás?” deu calo ao grupo. Até então, “faltava a experiência de palco”,
saber fazer coisas como “conduzir o técnico de som”. "Evoluímos muito com aquele primeiro disco".
Talvez por isso, o processo de fabrico do segundo álbum tenha sido mais rápido. Voltam a
colaborar com uma figura já estabelecida no panorama pop-rock português, Carlos Maria
Trindade, fundador dos Corpo Diplomático, músico dos Heróis do Mar e Madredeus, produtor
de gente como Rádio Macau, Xutos e Delfins. Olavo Bilac diz que a banda procurou em Carlos
Maria Trindade a “inovação” dos Heróis do Mar.
No final do Verão, a banda e o produtor iniciam as gravações nos estúdios 1 Só Céu. Seguiu-se
uma temporada nos Jacob Studios, em Surrey, nos arredores de Londres. Diz-se que este
condado inglês está assombrado por fantasmas. Os locais e o pessoal do estúdio contou-lhes
algumas das histórias de almas penadas que por ali habitavam. A rapariga que lhes cozinhava
garantia que tinha um fantasma de um soldado romano em casa.
Perante tais histórias, deixaram de dormir dois a dois por quarto (O estúdio tinha quartos no andar superior) e juntaram-se todos num quarto grande.
Também aqui a amizade entre os membros dos Santos se cimentou. Comiam juntos, saiam
juntos, tocavam juntos. 
Mas o processo de gravação ficou marcado por um contratempo bem mais sério. Pascoal num concerto antes da ida para Londres caiu e partiu um braço, mas mesmo assim conseguiu gravar as suas partes no disco.
Neste disco, Pedro Ayres Magalhães, outro nome grande da música portuguesa (Heróis do
Mar, Madredeus, Resistência), dá o seu apoio ao novo grupo, escrevendo a letra de
“Memória”. Neste departamento, a banda teve ainda a ajuda de Carlos Maria Trindade,
Fernando Cunha, Miguel Ângelo e Tiago Rodrigues, um amigo que escreveria letras nos discos
seguintes. “Love?” inclui também algumas letras dos Santos, o que não acontecia em “Onde
Estás?”. É um disco “mais maduro”, diz Pedro Cunha, menos eclético do que o primeiro, com
uma aproximação ao R&B.
A fama da banda era crescente. Foi marcante a participação dos Santos num concerto mítico
dos “padrinhos” Delfins na Baía de Cascais, em 1996, que seria transmitido pela SIC e pela
Antena3. Gradualmente, os membros dos Santos substituíram os Delfins em palco enquanto
tocavam “Baía de Cascais”, o tema final do concerto (enquanto os Delfins se metiam num
barco na idílica baía e partiam rumo ao horizonte).
O álbum foi um sucesso e a culpa é em boa parte de “Momento Final” (curiosamente, outra
canção que repescava, em jeito de balada, um tema rock do início dos Santos). Novamente, foi
o segundo single a funcionar em pleno, mesmo que “Quando se perde alguém” também tenha
deixado marcas nas rádios.
Satisfeitos com o êxito, os Santos continuavam a achar que era ao vivo que revelavam melhor
a sua essência. Foi para mostrar o que valiam ao vivo que se lançaram para a próxima
empreitada: um disco ao vivo.
Neste momento, os Santos & Pecadores eram uma cada vez mais oleada máquina de

concertos. Pedro Almeida lembra-se de dar 17 concertos em 20 dias, num verdadeiro corre-
corre por tudo o que era cidade, vila e aldeia do país.

Fruto dessa experiência, “Tu”, o nome que deram ao álbum ao vivo, não tem um único
overdub. O registo foi gravado ao vivo no Paradise Garage, em Lisboa, e conta com as
participações vocais de Marta Dias (“Nada Mudou”), Kika Santos (“Quando se Perde Alguém”)
e Paulo Gonzo (“Momento Final”).
No disco, incluíram também um original, “Tu És Assim”, fruto de mais um período de reclusão
do grupo. “Fomos de armas e bagagens para Monção, mesmo no topo de Portugal. O Pedro
Almeida tinha lá uma casa de família. Com os muitos concertos que tínhamos, nunca tínhamos
tempo para estarmos juntos a criar. Pensámos: ‘Vamos 15 dias lá para cima e vamos ver o que
nasce”. Uma antiga adega transformou-se em espaço criativo.
Numa opção que se repetiria no disco seguinte, os Santos decidiram fazer uma espécie de
férias criativas. “Acabou por ser um bocadinho de férias. Era um bocadinho família. Vivemos
com a nossa família e fazemos férias com ela. Santos sempre foi assim: a banda nasceu e foi
crescendo assim, com vários períodos em que estávamos só nós. Acabámos por crescer, por
nos conhecermos bem uns aos outros”, refere Pedro Cunha.
Repetiram a estratégia na gestação do próximo álbum ( Voar). A agenda de concertos não dava
tréguas, o que tornava difícil ter algum tempo para criar canções novas. “A única altura que a
banda tinha para compor era o Verão entre concertos. 
Optaram pelo dois-em-um: arrendaram uma casa de praia na Arrifana, no Algarve, durante um
mês. Dormiam na mesma casa, comiam na mesma casa, iam à praia, jogavam futebol,
andavam de bicicleta. Ao mesmo tempo iam compondo. Com as energias criativas
retemperadas, acabaram por compor com gozo, mesmo com a tentação da praia ali ao lado (a
que cediam quando muito bem lhes apetecesse). “Conseguimos separar-nos um bocado do
dia-a-dia, dos problemas de cada um. Acordávamos quando queríamos, dormíamos quando
queríamos. Houve um grande ambiente de trabalho”, recorda Olavo.
Compuseram duas dezenas de temas que levaram para estúdio. Gravaram com Mário
Barreiros, que tinha aberto um estúdio no Porto. “Ajudou-nos bastante nos arranjos dos
temas”, conta Pedro Cunha.
“Voar” (1999), inteiramente composto na Arrifana, tornou-se o disco mais vendido do grupo
até hoje. Gerou vários sucessos, destacando-se "Faz-me Voar", "Fala-me de Amor" e "Procura
o Teu Destino".
Em 2000, figuram num novo tributo para assinalar 20 anos de “Ar de Rock” de Rui Veloso (“20
Anos Depois - Ar de Rock”), ao lado de bandas e artistas como Clã, Xutos & Pontapés e Sara
Tavares. A experiência foi diferente da do tributo a António Variações, mas ainda assim
desafiante. Pegaram numa canção em inglês, “Inner Street”. “Foi a primeira vez que o Olavo
gravou em inglês .
O sucesso de “Voar” não fazia prever o que se seguiria. “Horas de Prazer” (2001), o sucessor,
apanhou a editora do grupo em grandes mudanças na direcção. A BMG centralizou em
Espanha o trabalho com artistas portugueses e espanhóis. “Propuseram-nos ir gravar a
Espanha porque era mais barato, propuseram-nos um produtor. Fugiu um pouco ao habitual
dos Santos que era controlarmos essa parte”, conta Pedro Cunha.
A experiência em Madrid correu bem. Durante um mês e meio, a banda esteve
com o produtor espanhol Carlos Martos nos Sonoland Studios e saiu de lá
“completamente” satisfeita com o disco. Aproveitaram a oportunidade para troca de experiencias
com músicos espanhóis.
Mas, na hora de promover o “Horas de Prazer”, as coisas falharam. “O disco veio para o
mercado sem haver um gabinete de promoção [na BMG]. Não houve volta a dar. Foi o nosso
primeiro grande desgosto: ter um disco e as pessoas não saberem que ele está cá fora”. Neste
período, para dificultar mais as coisas, o grupo perde também o manager ( António Cunha) e muda de agência de espetáculos.
O contrato com a BMG terminou com a edição de uma compilação de êxitos. “Os Primeiros 10
Anos” foi editada em 2003, com três temas inéditos: "Ondas" (o primeiro single), "Um Por
Todos" e "Perdas". Voltaram às vendas elevadas. Outra conquista foi o convite da TVI de composição de quatro músicas exclusivas para a telenovela “Amanhecer” ("Há Em Ti Um Amanhecer", "Naufrágio (Tão Frágil)", "Anjo Só" e "Na Minha Alma").
Numa entrevista, Olavo Bilac explicava o que pretendiam com o disco ( Os primeiros 10 anos): “pretende ser uma espécie de ponto final dos primeiros dez anos dos Santos & Pecadores. Simultaneamente, impõe-se fazer uma espécie de balanço deste primeiro período da nossa carreira musical.
Analisar aquilo que nos faz sentir bem e realizados e perceber o que ainda temos para oferecer
ao público. Sempre acreditámos que podíamos chegar aqui. Ou melhor, tínhamos uma forte
vontade de que isso acontecesse, senão teríamos desistido pelo caminho”.
“Acção-Reacção”, o título do álbum que se seguiu, lançado já numa outra editora, a Farol,
alude aos períodos conturbados. “Tínhamos que reagir. Consideramos esse o nosso disco mais
rock e possivelmente tem a ver com isso. É um bocadinho mais... agressivo, mas as canções
estão lá”, refere Pedro Cunha.
O álbum foi produzido por Jeffrey Holdip, engenheiro de som da luso-canadiana Nelly Furtado e
amigo da banda. Nelly era, aliás, fã do grupo e apareceu no primeiro concerto dos Santos &
Pecadores em Toronto, no Canadá. Chegou-se a falar na participação de Nelly Furtado num
tema dos Santos, mas por motivos pessoais a canadiana não o pôde fazer. “Acção-Reacção” foi
gravado no BBS, em Vendas Novas, o estúdio de Pedro Almeida.
Tal como o trabalho anterior, “Acção-Reacção” não deu muito que falar. “Miss Solidão” e “Lua
Cheia” foram escolhidos para singles e fizeram parte de novelas da TVI. A somar aos
problemas, o álbum apanha em cheio com os efeitos da crise da indústria fonográfica. “O
último álbum de originais tinha saído em 2001, este é de 2006. 
Sobre esta fase, Pedro Almeida diz que houve algum “desnorte” gerado pelo que acontecia à
volta do grupo. Olavo Bilac confirma que pensar noutras coisas que não apenas em fazer
canções desconcentrou e “cansou” o grupo: “O músico tem que pensar em música, não tem
que pensar em vender”. Acrescenta: “Olhando para o ‘Horas de Prazer’ e o ‘Acção-Reacção’,
são discos que passaram um bocado ao lado. Encontro lá grandes canções e boas letras. São
filhos mal-amados, mas com grandes canções”.
A 15 de Abril de 2008, num ato raro em Portugal, e mesmo no mundo, à época, os Santos &
Pecadores disponibilizaram na Internet um disco para download gratuito. Só em duas

semanas, “Livre Trânsito” foi descarregado cerca de 50 mil vezes. Durante o período em que
esteve online, as faixas tiveram um milhão de downloads.
“Não estávamos à espera de que o álbum tivesse tantos descarregamentos em tão pouco
tempo”, referia Olavo Bilac . Bilac dizia: “A banda decidiu oferecer este disco aos fãs como reconhecimento pelo carinho que sempre nos
dedicaram”. 
O álbum, misturado por Pedro Almeida no seu estúdio BBS, em Vendas Novas, contém dez
canções em formato acústico que fazem um resumo da carreira do grupo. Estão lá êxitos como
“Fala-me de Amor” e “Quando Se Perde Alguém”, mas também novas versões de “No Silêncio
da Noite”, o single retirado do álbum, e “Perdas”, que contam com a participação de Orlando
Santos e da fadista Kátia Guerreiro, respectivamente.
Em 2009, a Farol lança um novo best of do grupo, “Caixa dos Segredos”, com dois originais
("Caixa dos Segredos" e "Perdido Estou"). Foi também lançada uma edição especial desta
colectânea, em digipak, que inclui, para além dos mesmos 14 temas em formato CD, um DVD
com documentário, um concerto acústico e fotografias.
Em 2010, Olavo Bilac começa um projecto,  de homenagem a José Afonso. Para
além de Bilac, os Zeca Sempre contam com Nuno Guerreiro (Ala dos Namorados), Tozé Santos
(Perfume) e Vítor Silva. Lançaram o álbum de estreia, composto apenas com versões de Zeca,
em Novembro de 2010.
A experiência “Livre Trânsito” deu energia ao grupo, depois do período comercial menos
positivo de “Horas de Prazer” e “Acção-Reacção”. E “Energia” é o nome do álbum dos Santos &
Pecadores que os reconciliou com o grande público, muito por culpa de “Tela”, single que não
largou as tabelas de mais ouvidas na rádio durante muito tempo. O tema é a canção principal
da banda sonora do filme “Contraluz” do realizador Fernando Fragata (2010). Numa tradição já
clássica nos Santos, foi o segundo single aquele que teve mais impacto, apesar de “Leva-me a
Dançar” ter obtido um respeitável airplay.
“Energia”, como o nome indica, é um álbum positivo. “É importante que as pessoas tenham
bons momentos. Todos os dias o telejornal só fala do lado negativo das coisas”, diz Pedro
Almeida, satisfeito com a estabilização do grupo depois de um período “descendente”.
“Sempre achamos que era válido esse papel, essa parte lúdica, mais descomprometida do
nosso processo criativo. Dá para saltar, dá para curtir, dá para namorar”.
“Quisemos que fosse mais dançável. Chamamos-lhe ‘Energia’ porque era aquilo que as
músicas queriam transmitir”, confirma Pedro Cunha. Para ajudar a comunicar a nova aura dos
Santos, a banda foi buscar Rui David, dos Hands On Approach, para a produção. Se nos
primeiros discos foram consagrados que os ajudaram a lançar-se, desta feita os papéis
inverteram-se.
Rui David conta que só conhecia os membros da banda de forma “casual”. Já os apreciava: “é
uma banda com grande relevância no pop-rock português. Pela sua carreira e acima de tudo
pela forma profissional e, ao mesmo tempo, descomplexada como o fazem. Em Portugal há
muito complexo relativamente ao pop-rock...”.
A experiência correu bem. “Cada dia em estúdio dava uma história. Não vou particularizar,
mas no meio de muito trabalho houve sempre tempo para muita boa disposição. Lembro-me
de em alturas em que a coisa não fluía tão bem organizávamos um mini-torneio de póquer!
Lembro-me também de o estúdio estar sempre cheio porque eles são uma banda muito unida
e muitas vezes estavam lá todos, mesmo que apenas um deles estivesse a gravar”, conta. Esse
espírito acaba por se “reflectir na energia do disco”.
A “energia positiva”, como lhe chama Pedro Cunha, continua. A banda lançou em Dezembro
de 2011 um disco ao vivo acústico, gravado no Centro Cultural de Belém em Setembro desse
ano. “20 Anos ao Vivo no CCB” (iPlay) tem produção de Mário Barreiros. Para a celebração, os
Santos & Pecadores trouxeram amigos de longa data. Zé Manel (ex-Fingertips) canta em

“Momento Final” e Kika Santos volta a “Quando se Perde Alguém”. Rui David participa no
tema “Caixa dos Segredos”.

No final de 2013 a banda decide fazer um período sabático de tempo incerto, para renovar energias e reencontrar o caminho em conjunto.

Nos anos seguintes, Olavo Bilac e Pedro Cunha editam trabalhos a solo. Os restantes membros da banda vão colaborando com outros artistas e projetos.

2021 foi um ano muito triste.

"O nosso Irmão Rui Martins partiu… Partiu cedo demais

Deixou-nos o seu legado musical e as memórias de todos os momentos que partilhámos juntos para o recordarmos. 

Ficou um vazio. 

Neste momento a banda ainda se encontra parada, com algumas abordagens a um regresso.

Por respeito para com todos os que apreciam o nosso trabalho e nos têm acompanhado ao longo dos anos, resolvemos reativar a nossa página oficial onde contamos a nossa história, passado, presente e futuro".

 

Até já!

 

Santos & Pecadores
 

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